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domingo, novembro 28, 2004

S. Vicente

manu

terça-feira, novembro 23, 2004

Flagelados

O vento cortante de Fevereiro soprava desalmadamente na noite estrelada e fria. Não encontrando obstáculos corria livremente, sobre as ondulações do terreno despido de plantas, tornando maior o vazio envolvente e mais profunda a desolação nocturna dos campos. Só pelo ruído que a sua fricção produzia, Leandro percebia o que se achava à sua volta. O vento trazia-lhe aos ouvidos a forma e a natureza das coisas em que roçava, uma pedra, um muro, o tronco nu de alguma árvore solitária que os homens não conseguiram arrancar, um casinhoto descoberto, as paredes arruinadas duma casa abandonada com os seus oitões pontiagudos. Enquanto caminhava, ouvia o vazio e a ruína, pedaços de muros perdidos e o silêncio encolhido sob o contínuo gemer da ventania de Inverno.

Manuel Lopes, Flagelados do Vendo Leste, Lisboa, Vega, 1991


Aridez de paisagem em Porto Novo/S. Antão
manu

segunda-feira, novembro 22, 2004

Caricatura


Carlos Drummond de Andrade por Renato Stegun


manu

O Mundo é Grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar

quinta-feira, novembro 18, 2004


Mano Alencar
manu

Poema do Mar

Poema do Mar

Jorge Barbosa

quarta-feira, novembro 17, 2004

Dia do Não Fumador


Dia do Não Fumador - 17/Novembro
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O Feitiço do Tabaco

"De ano para ano se aperta cada vez mais o cerco aos fumadores. É uma verdadeira perseguição, sobretudo da parte dos recentemente convertidos ao não tabagismo que, quais cristãos-novos da modernidade, barbaramente insistem em encomendar aos suplícios da fogueira nós outros, que, civilizada e democraticamente, respeitamos a sua péssima opção de renegar esse superior deleite que é namorar um cigarro ou um charuto.[...]

Por qualquer razão misteriosa a Igreja da Idade Média comparava o uso do tabaco ao adultério e, sendo certo que a relação não é evidente senão no facto de ainda hoje se atribuir ao fumo a diminuição da virilidade, é curioso como são no geral as mulheres que mais se encarniçam contra essa volúpia.[...]


A liberdade é precisamente esse poder de fazer ou deixar de fazer. Ainda há bocado discutimos isso num grupo. Mas, fumando diante de mim, você obriga-me a fumar objectou ela. De borla, disse-lhe, enfático, coisa, aliás, que ninguém tem coragem de reconhecer como uma injustiça, uma desigualdade. Num qualquer país que se pautasse pelos certos princípios de justiça social, certamente que o imposto especial será lançado sobre os não fumadores, esses privilegiados parasitas que beneficiam das delícias do fumo completamente de graça, que não gastam um tusto para alimentar vícios encobertos, antes os satisfazem às nossas custas, provavelmente à razão de um maço por dia ou mesmo mais! [...]"

Germano Almeida, "O Feitiço do Tabaco",
in Estórias Contadas, Mindelo,
Ilhéu Editora, pp.169-171.

terça-feira, novembro 16, 2004

Instante

Instante3

Pilão
manu

segunda-feira, novembro 15, 2004

Criação das Ilhas de Cabo Verde

"Agora eu vou contar uma historinha para vocês ouvirem. É uma historinha de dez irmãos, todos filhos da mesma mãe e do mesmo pai. Sim senhor: do mesmo pai e da mesma mãe. 7 são filhos-machos, 3 são filhas-fêmeas. Dr. Francelim, que é um homem de muita prenda na cabeça falou muito bem falado que filhos da mesma mãe e do mesmo pai é irmão germano. Ah, eu já estava a trocar de conversa. Como eu contei agorinha mesmo, 7 são filhos-machos, 3 são filhas-fêmeas.
O mais velho e o mais maior chama Tiago. O mais menor não é o mais menor, é a mais menor, porque é a mais menor, porque é uma menininha e o predicado deve concordar com o sujeito. Ela chama Luzia. Não é Luzia daquela palavra que o Dr. Baltasar chama verbo luzir, não senhor. É Luzia porque sua madrinha chamava Nha Daluz. Ora então (é assim que fala senhor professor), ora então, ela chama Luzia. Outrum chama Nicolau. Outro outrum chama Antão, outro outro outrum chama Vicente. Tem duas menininhas, uma eles puseram nome de Brava; outra, eles puseram nome de Boa-Vista. Bem, até aqui são 7. Mas, porém, tem mais 3 irmãos: senhor Fogo, nhô Sal, nhô Maio. Agora, vocês tirem provas dos 9 e vão ver que 7 e 3 são 10. 10 noves fora UM. Quer dizer, aqueles 10 irmãos fazem uma corporal só e um espiritual só. Ah, eu estava a ficar esquecido. No meio daqueles tem uns catoquinhos de gente, que só servem para dar topada e para incomodar cada qual, com suas tropidas, mar arriba, mar abaixo.
Português de Portugal diz que aqueles catoquinhos de gente é ilhéu. Pode ser. Mas, nome direito não é ilhéu. É Djeu. Qualquer dia eu conto a história do Djeu de Santa Maria. Por hoje, vocês já ficam a saber a historinha daqueles 10 irmãos. Todos filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Filho por fora não tem. Não tem?! Tem, sim senhor"


Grabriel Mariano


Caizinho, Porto Novo / S. Antão - Cabo Verde
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