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quinta-feira, março 03, 2005

Há em qualquer parte a perfeição de uma clareira
e a sua pobreza extrema entre pedras e ramos
calcinados. Aí onde nenhuma bandeira se levanta
a cor do dia é aveludada e leve
e um barco imóvel está preso na areia.
Entre as ervas cintila um minúsculo diadema
e ouve-se a solar melodia das abelhas.
O segredo da água flui entre os juncos verdes.
Se algo se diz é apenas uma sílaba de sal
sobre a penugem de ouro de uma espessa planta.
Aí o olhar é justo nos limites da sombra
e a palavra suspensa no silêncio do enigma.

António Ramos Rosa, Três, Lisboa,
Edição & etc, 1995, p. 14.