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quarta-feira, maio 03, 2006

Património Arquitectónico de S. Filipe

São Filipe, 28 de Abril de 2006


Caros amigos:

Ontem, dia 27 de Abril, a nossa cidade de São Filipe, presenciou um acto inédito: três figuras bastante conhecidas em São Filipe, respectivamente, Agnelo Andrade, proprietário da agência de turismo "DjarFogo", Luisa Lopes, engenheira e professora no Liceu Dr. Teixeira de Sousa e Renata Eckelmann Zanini, proprietária do espaço de restauração típico " Le Bistro", acorrentaram-se ao recém-colocado gradeamento da Praça, á frente da Câmara Municipal de São Filipe, manifestando, deste modo, o seu desacordo e indignação perante a descaracterização a que o mesmo espaço foi sujeito.

Se a maior parte das pessoas, compreendeu a razão do acto e, concordando ou não com ele, respeitaram os manifestantes, o mesmo já não se pode dizer do Presidente da Câmara que, na minha presença, os apelidou de emigrante/ estrangeirado, praiense e estrangeira, esquecendo-se que somos uma nação na diàspora, que há muito erradicamos e ridícula dicotomia Badiu/Sampadjudo e que tem sido graças à solidariedade de muito estrangeiro que, aliados ao nosso esforço e labuta diária, nos vamos guindando na senda do progresso e do desenvolvimento.

Deixo ao vosso juízo, tal atitude, uma vez que, num outro artigo abordarei especificamente esta questão. Com a presente, é minha intenção dar-vos a conhecer o teor da minha resposta ao Presidente da Câmara que buscou, em vez do terçar sadio de argumentos, o vilipêndio e a linguagem torpe e reles como forma de justificar o que, volto a reafirmá-lo, são autênticos crimes contra o património cultural da Ilha do Fogo, em particular, e de Cabo Verde, no geral.
Eugênio Miranda Veiga tornou-se um perigo, uma doença que em não sendo combatida, resultará na morte e destruição do valioso património cultural de São Filipe que, no fundo, é pertença de todos cabo-verdianos. A sua atitude autista e arrogante, de nada ouvir e de tudo poder fazer, não pode mais ser tolerada. Aliás, mesmo dentro do seu partido, muitas são as vozes ( a maioria) que o contestam e, inclusive, não queriam que se candidatasse ao mandato que ora exerce. E, se não se manifestam, hoje, abertamente, tão somente será porque fiéis à disciplina partidária, preferem o dialogo interno e uma outra forma de resolução- que mesmo não concordando, respeito.

Urge, por conseguinte, que nos façamos ouvir para que não se estribe o presidente no argumento de eu ser uma voz isolada. Conjuro todos os que amam São Filipe a se manifestarem, de todas as formas possíveis e a obrigarem as demais autoridades a saírem do seu cúmplice silêncio. Refiro-me ao Presidente do Instituto de Investigação e Preservação do Património Cultural (IIPC), ao Ministro da Cultura e ao próprio Presidente da Republica que, não obstante não ser executivo, não deixa de ser, em ultima instancia o guardião do legado cultural da nação, importando fazer-se ouvir quando mesmo está em debate e, quiçá, em perigo.

Penitencio-me se a resposta que, a seguir, vão ler contiver alguma adjectivação mais excessiva ou um tom mais emotivo. Todavia, como diz o ditado, “ só não sente, quem não é filho de boa gente”.

Por São Filipe e por DjarFogo... Sempre!

Caboverdeanamente,

Fausto Amarilio do Rosário
“Post- scriptum” à carta aberta ao Presidente da Câmara de S. Filipe ( ou, o meu “despacho” sobre um hilariante despacho)

Senhor, “Eu- genial”, Presidente:

Em cumprimento das suas inquestionáveis e “eu- geniais ordens”, a mui digna Secretária Municipal da Câmara Municipal da ex- cidade de São Filipe, hoje Sanfibila, enviou-me, por carta registada nos Correios de Cabo Verde, a transcrição do seu não menos eu-genial “despacho”, exarado sobre a carta aberta por mim subscrita, e, perante a eu-genialidade quer do acto como do conteúdo, não resisti em, também, “despachar” o seguinte:

1º- Agradecer ao “Eu- genial” Presidente o facto de ter proporcionado ao subscritor uma monumental gargalhada, produzindo um despacho sobre uma carta aberta. Tal acto administrativo é singular e sem precedentes, com direito a entrada no anedotário nacional. O seu mentor, Odorico, teria ficado satisfeito... Mas, falando a sério, por que não ter umas aulas com o muito competente homologo de Santa Catarina, Aqueleu Barbosa, e não com os dois assessores ( esses sim, Renivaldo e Jenivaldo) que o ajudaram a escrevinhar tão competente “despacho” ?

2º- Ressalvar ao “Eu-genial” Presidente a circunstância de não ter dito/ respondido absolutamente nada ao conteúdo da carta aberta. Apenas referiu ter feito realizações. Mas é precisamente dessas realizações que se questiona a sua oportunidade, a sua validade e o seu prejuízo para o todo arquitectónico da cidade. Todos os que verdadeiramente amam a cidade de São Filipe devem chorar perante os crimes cometidos, exceptuando os que, por ignorância ou oportunismo, se mantém com os olhos secos. E, num à-parte, importa dizer que tudo o se faz não deixa de ser uma realização: despachar sobre uma carta aberta, por exemplo.

3º- Ainda, ressalvar ao “Eu-genial” autarca que não possuindo capacidade para sustentar e argumentar sobre a “bondade das aberrações/realizações, preferiu a fuga medíocre em direcção à insinuação reles e torpe sobre prováveis julgamentos por instâncias superiores de eventuais crimes... Esqueceu-se que o subscritor da carta aberta enfrentou sem medo e de peito aberto a barra do tribunal, sendo por isso, hoje, um homem livre e sem receios... Outros preferiram férias prolongadas noutros países ou a imunidade conferida pelo cargo... Mas, o mais perseguido funcionário de que há memória no Fogo, Carlos António Barbosa Vicente Rosário de Pina ( Totinho), provou bem claro, na barra do mesmo Tribunal, ser o “Eu-genial” Presidente um não menos “Eu-genial” e reles receptador/ comprador de peças de qualidade e utilidade duvidosa; e se, se somar o recentemente divulgado na Comunicação Social, não restarão duvidas que se está perante um criminoso que pretende mistificar a opinião publica, em particular a dos foguenses, clamando por justiça, quando deveria ser a justiça a clamar pela sua presença. Mas o dia chegará...

4º- Retorquir ao “Eu-genial” Presidente que o subscritor foi, é e continuará a ser um bom professor de Língua Portuguesa, atestando esse facto as muitas referências elogiosas sobre o seu desempenho, inclusive de muitos que com o “Génio” trabalham... Se, no passado, tal como hoje, exerceu outras funções que despertaram a inveja de outros, esses mesmos outros deverão lembrar-se que o todo- poderoso os ajudou na educação dos filhos, a preservar a dignidade e o próprio trabalho, a conseguir a casa aonde residem, nada pedindo ou esperando em troca, pelo que, hoje, continua simples, sem posses ilícitas, terrenos por toda a parte ou marcas de enriquecimento súbito, ganhando o pão nosso de cada dia, sem cargos ou percepções fictícias.

5º- Relembrar ao “Eu- genial” Presidente que ler, citar, transcrever e divulgar fazem parte da função de ser professor e de todo ser humano que minimamente preze a instrução e o conhecimento. Os medíocres, é claro, preferem o obscurantismo para poderem reinar. Que o signatário, para além do muito que já escreveu nas revistas e jornais deste pais, não só continuará a fazê-lo como também continuará a ler, a citar, a transcrever e a divulgar todo o que entender ser relevante para um melhor bem-estar dos que o rodeiam e com ele convivem. Compreende, todavia, o signatário a “cotovelite” aguda do” eu-genial” Presidente: do anedotário nacional, também, faz parte a forma caricata como o eu-genial autarca “massacra” a língua que tendo sido de Camões, também foi de Eugênio Tavares e de Pedro Cardoso... Felizmente, já não pertencem ao mundo dos vivos.

São Filipe, 26 de Abril de 2006.

Perdido de riso,


Fausto Amarilio do Rosário