Para Reflexão... Anémonas
À Filinta, com quem alinhavei estes pensamentos
Anémona s. f.
planta da fam. das Ranunculáceas, cultivada para fins ornamentais;
a flor desta planta.
(Do gr. anemóne, pelo lat. anemóne-, «id.»)
anemo-
elem. de formação de palavras que exprime a ideia de vento.
(Do gr. ánemos, «vento»)
an-
pref. que exprime a ideia de privação, separação;
Mona s. f.
(pop.) cabeça.
- Ó professora, sabe que fica muito mais bonita quando pára de respirar?
- Stôra, temos de escrever ISSO tudo? Mas isso dá muuuuuito trabalho!
- Ler ISTO? Que seca!...
- O que eu penso da política ( da sociedade, da ecologia, da paz mundial, das espécies em extinção...)? SEI LÁ! Nem me interessa!...
São estas algumas das preciosidades que eu ouço dos meus alunos e alunas, adolescentes que frequentam o 8º ano de escolaridade. Considero-as bastante representativas do calibre cognitivo e cívico dos nossos cidadãos de amanhã.
Há dias, durante um Conselho de Turma intercalar, dei por mim a pensar que muitos destes meninos e meninas têm as cabecinhas vazias, o que faria deles uma espécie de anémonas. Enganei-me, claro, porque o que eu queria dizer era “medusas”, que é como quem diz “alforrecas”, aquelas graciosas criaturas marinhas em forma de pára-quedas, que parecem bailarinas de Degas.
No entanto, embora ciente dele, vou persistir no engano, já que a palavra “anémona” me abriu um interessante caminho de pseudo-análise linguística.
Se não, vejamos: a palavra em causa é composta por um prefixo, an- que exprime a ideia de privação ou separação (como em analfabeto); segue-se uma vogal de ligação, e, que também poderemos baptizar com o pomposo nome de vogal epentética e, finalmente, uma palavra base, mona, que em bom português popular significa ‘cabeça’.
As anémonas serão, portanto, as criaturas desprovidas de cabeça, esta geração que nós, adultos (e ex-anémonas de memória curta) classificamos de “vazia”. A corroborar esta teoria, há ainda o facto acrescido de anemo- ser um elemento de formação de palavras que exprime a ideia de vento. Ora, os nossos adolescentes, para além de parecerem não ter cabeça, não se comportam também como umas autênticas “cabeças de vento”?
M. N.
C. P. 2006
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