A união faz a força e mais vale dois doentes que um
Uma mulher, vestida com um fato de treino e com o cabelo molhado – arriscava-se a apanhar uma pneumonia, exposta ao frio daquela noite de Janeiro – estava ali parada, parecendo a imagem do desalento. O único automóvel que se via, um modelo antigo, contemporâneo do meu, que anda a sofrer de tosses e gripes mecânicas próprias da idade, deveria ser propriedade da mulher do cabelo molhado. Mulher essa que as minhas brilhantes faculdades dedutivas levaram a crer ser utente da piscina!
Contudo, a mulher continuava na rua, a personificar o desalento, a perscrutar a rua e a cozinhar uma pneumonia. O carro deve ter uma avaria, pensei eu e pensei bem. Chegou uma carrinha branca e dela saiu a providencial ajuda, também ela, vejam lá a coincidência, de cabelo molhado, mas, arrancada pela amiga ao duche, trazia uma turbante toalha. A turbante toalha começa a empurrar o carro modelo antigo com a cabelo molhado ao volante. Mas a velocidade que a turbante toalha imprimia ao modelo antigo não era suficiente para que a cabelo molhado o conseguisse ressuscitar. Tentaram várias vezes, comigo a torcer por elas, do confortável anonimato da minha janela. Finalmente, a turbante toalha deu mostras de cansaço (até eu estava, só de a observar!) e a cabelo molhado decidiu pôr em prática outra estratégia, ou seja, o plano B. Entrou na piscina e saiu de lá acompanhada por três solícitos, prestáveis e musculados mancebos que se organizaram em equipa e em três tempos puseram o modelo antigo a rosnar e a bufar com todo o seu furor mecânico.
Deste episódio se tiram duas conclusões: a primeira é que a união faz a força;
A segunda é que se a cabelo molhado tivesse optado logo no início pelo plano B, existiria apenas uma mulher com pneumonia no dia seguinte. Mas ela não foi egoísta, quis partilhar a doença com a amiga...
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