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domingo, abril 17, 2005

Para que servem as histórias?

«Se tivermos que responder a essa questão – para que servem as histórias? -, provavelmente não tenhamos uma resposta precisa. Mas se nos remetermos à própria trajectória do homem, os argumentos começarão a brotar em nossa lembrança.

Povos antigos tinham o saudável costume de se reunir à noite, ao redor de fogueiras acesas, e a palavra pertencia, então, aos mais velhos. Dessa forma, envolvidos na magia do que era contado, os jovens iam se apropriando dos mitos e lendas de seu povo.

Entre os índios do norte da América – conta Eduardo Galeano- “os contadores de história, os cantadores de história, só podem contar enquanto a neve cai. A tradição manda que seja assim”. […] “Dizem que quando os contos soam, as plantas não se preocupam em crescer e os pássaros esquecem a comida de seus filhotes.”

Com essa forma simbólica, os índios falam do poder do imaginário: plantas, pássaros, e quem mais se esqueceria das próprias funções, seduzidos pelo fascínio das palavras?»

Carlos Drummond de Andrade, “Para que servem as histórias?”,
in Histórias Para o Rei - Conto, 4ª Edição,
Rio de Janeiro, Editora Record, 1999, p. 11