top1comtitulo

quinta-feira, março 23, 2006


Museu de Língua Portuguesa, em S. Paulo, no Brasil

O 1º Museu de Língua Portuguesa do Mundo

Soube através de Lantuna que foi inaugurado esta semana o primeiro Museu de Língua Portuguesa, em S. Paulo, Brasil. Para quem não pode visitar in loco é já possível fazer uma visita a este museu através do seguinte site: http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/ . Vão lá dar uma espreitadela! Está muito interessante!

terça-feira, março 21, 2006

Um casamento feito no céu


À Raquel, amiga de todas as minhas horas



Ela e ele nunca se entenderam. Embora ambos possam ser classificados pelos literatos como personagens redondas, tinham formas diferentes. Formas de ser, de oscilar, de rodar. Formas de coordenar tempo com movimento, formas, enfim, de circular no espaço reservado a cada um.
A incompatibilidade das formas era já suficiente para que eles não se entendessem, mas um outro factor mais cáustico, mais corrosivo, tornava qualquer hipótese de entendimento impossível: a incompatibilidade de horários. Ele rodava durante o dia, passeava a sua majestosa e redonda figura pelas luminosidades azuis ou cinzentas. Preferia as azuis e amuava nas cinzentas.
Ela era uma criatura da noite. A sua palidez denunciava essa escolha de vida, essa preferência pelos céus escuros, salpicados de estrelas e planetas.
Ela chegava quando ele partia. Ele chegava quando ela partia. Não é de espantar que nunca se tenham entendido! Arrastavam há séculos aquela relação, feita de desencontros permanentes, de silêncios contrariados, de lágrimas de chuva nele e chuva de estrelas nela.
Naquele dia, algo estalou dentro dele. De temperamento fogoso e impulsivo, decidiu, sem reflectir, retardar um pouco a sua entrada, para a apanhar na saída. Correu mal. Muito mal, mesmo. Discutiram, gritaram insultos, ou melhor, ele gritou, vermelho de fúria, enquanto ela apenas escutava, escondendo a mágoa atrás de um cínico sorriso amarelo, que ainda o enfureceu mais. A discussão, embora feia, durou pouco. O tempo urgia, ele tinha de entrar, ela tinha de sair. Da discussão apenas ficou a pairar no ar o clima gélido.
Foi por isso que naquele entardecer de Janeiro o Senhor Sol se pôs no mar, vermelhão de fúria e a Dona Lua surgiu no céu do crepúsculo, ainda de sorriso amarelo na sua cara de lua cheia. Mas ela não era de rancores e, pouco tempo depois, já se passeava redonda, branca, luminosa e bela pelo céu nocturno. Estava como nova.

Ah, claro, estávamos na lua cheia, mas para a história dar certo, ela devia ser nova.

M. N.
Ponte das Três Entradas, 26 de Janeiro de 2005

quinta-feira, março 02, 2006


Anémona - Actinia echina

Para Reflexão... Anémonas



À Filinta, com quem alinhavei estes pensamentos

Anémona s. f.
planta da fam. das Ranunculáceas, cultivada para fins ornamentais;
a flor desta planta.
(Do gr. anemóne, pelo lat. anemóne-, «id.»)

anemo-
elem. de formação de palavras que exprime a ideia de vento.
(Do gr. ánemos, «vento»)

an-
pref. que exprime a ideia de privação, separação;

Mona s. f.
(pop.) cabeça.


- Ó professora, sabe que fica muito mais bonita quando pára de respirar?
- Stôra, temos de escrever ISSO tudo? Mas isso dá muuuuuito trabalho!
- Ler ISTO? Que seca!...
- O que eu penso da política ( da sociedade, da ecologia, da paz mundial, das espécies em extinção...)? SEI LÁ! Nem me interessa!...

São estas algumas das preciosidades que eu ouço dos meus alunos e alunas, adolescentes que frequentam o 8º ano de escolaridade. Considero-as bastante representativas do calibre cognitivo e cívico dos nossos cidadãos de amanhã.
Há dias, durante um Conselho de Turma intercalar, dei por mim a pensar que muitos destes meninos e meninas têm as cabecinhas vazias, o que faria deles uma espécie de anémonas. Enganei-me, claro, porque o que eu queria dizer era “medusas”, que é como quem diz “alforrecas”, aquelas graciosas criaturas marinhas em forma de pára-quedas, que parecem bailarinas de Degas.
No entanto, embora ciente dele, vou persistir no engano, já que a palavra “anémona” me abriu um interessante caminho de pseudo-análise linguística.
Se não, vejamos: a palavra em causa é composta por um prefixo, an- que exprime a ideia de privação ou separação (como em analfabeto); segue-se uma vogal de ligação, e, que também poderemos baptizar com o pomposo nome de vogal epentética e, finalmente, uma palavra base, mona, que em bom português popular significa ‘cabeça’.
As anémonas serão, portanto, as criaturas desprovidas de cabeça, esta geração que nós, adultos (e ex-anémonas de memória curta) classificamos de “vazia”. A corroborar esta teoria, há ainda o facto acrescido de anemo- ser um elemento de formação de palavras que exprime a ideia de vento. Ora, os nossos adolescentes, para além de parecerem não ter cabeça, não se comportam também como umas autênticas “cabeças de vento”?





M. N.
C. P. 2006