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quinta-feira, maio 26, 2005

Bom Som...





"Mano Preto" de Simentera, CD "Tr'adicional" [Mário Lúcio]

A Não Perder...

A Universidade de Aveiro encerra o ano lectivo no dia 28 com um espectáculo de Luís Represas e Mário Lúcio, acompanhados pelas coreografias de Tamango e Mano Preto. Recomendo vivamente este espectáculo não fosse Mário Lúcio o meu intérprete caboverdeano favorito.
Pena eu não poder ir a Aveiro no fim-de-semana... Se não estaria na primeira fila!
A primeira e única vez que assisti a um concerto com Mário Lúcio foi, em Sines, no Festival de Músicas do Mundo de 2003. Já tinha na época toda a discografia de Simentera, grupo de que é fundador e líder. Foi com emoção que assisti àquele espectáculo de apresentação do último CD ("Tr’adicional") de Simentera, e ao génio interpretativo de toda a banda, a harmonia que transmite, na união da tradição com a modernidade, representando Cabo Verde de forma tão sublime e simultaneamente tão humilde. A humildade de quem honra as tradições de um povo, respira a brisa do mar que chega às encostas das montanhas suadas pela enxada, e sorri, num rasgo de inocênca e meninice.
Deixava só um pedido... Nos próximos álbuns de Simentera coloquem as letras em crioulo no CD, por favor! Pois, muito do que sei em crioulo foi aprendido justamente a ouvir música crioula e a ler a letra das músicas... Além do que em muito facilita a interpretação da mensagem do texto. ;)

quarta-feira, maio 25, 2005


Tudo Nada

Pelos Caminhos

Sou filho do Infinito
Estou aqui
Ali
Em mim
Em qualquer sítio
No poema público
Lavrado por caminhantes
Escrito de luz e lava
Sonho
Transpiração e mágoa
Nas páginas de cada rua

Viajo sem estrada
Vestido de vento
E de nada

Vagabundo
Em cada instante parto
O poeta sabe
O mundo que abre

Está em tudo
Que lhe cabe.

Tomás Jorge

sábado, maio 21, 2005

A gente pode...

"A gente pode
morar numa casa mais ou menos,
numa rua mais ou menos,
e até ter um governo mais ou menos.

A gente pode
dormir numa cama mais ou menos,
comer um feijão mais ou menos,
e até ser obrigado a acreditar mais ou menos
no futuro.

A gente pode
olhar em volta e sentir que tudo está
mais ou menos.

Tudo bem.

O que a gente não pode
mesmo, nunca, de jeito nenhum,
é amar mais ou menos,
é sonhar mais ou menos,
é ser amigo mais ou menos,
é ter fé mais ou menos,
e acreditar mais ou menos.

Senão a gente corre o risco de se tornar
uma pessoa mais ou menos."


sexta-feira, maio 20, 2005

3º Festival Islâmico - Mértola

Cartaz Festival Islâmico

quinta-feira, maio 19, 2005


Pegadas
Foto de Henrique de Jesus in Olhares

Ao ritmo do Funaná

Muchim era temido por todos, desde a sua árdua adolescência nos arredores da ilha do carnaval. Ainda mocinho novo, a sua vida consistia em meter mão nas propriedades alheias. Segundo muitos, Ribeirinha era a sua segunda morada, outros afirmavam que ele conhecia a cadeia, como uma mãe conhece os próprios filhos. Em S. Vicente já não havia solução possível para ele , sendo ele um quarentão com aspecto de "vapor bedge", que outrora ia ao Porto Grande.
Foi transladado para a prisão de S. Jorginho, onde encontrou Pina e o Djodje, outros dois experientes no campo onde ele era especialista. Djodje era um velho amigo de Muchim, foram companheiros em várias jornadas, compartilharam celas em várias ocasiões, e de novo juntos relembrariam as experiências já vividas. Por sua vez, Pina era alto, escuro, e usava rasta. Estava atrás das grades por negociar " palha". Num belo dia em que o sol beijava o mar, e o mercúrio subia ao limite dos vinte graus, o trio resolveu quebrar a rotina com um som estupendo, que é o funaná…ideia de Muchim, que logo afirmou:
- Utilizarei a colher.
- E eu a gaita que me ofereceu Delmiro - acrescentou Pina com entusiasmo.
Só faltava o Djodje e ambos esperavam que ele desse a conhecer o instrumento com que tencionava acompanhá-los. Ficaram confusos ao ouvirem o Djodje:
- E eu matarei dois coelhos com um balaço. Segundos após, os gestos falavam por si, o Djedje retirava da algibeira do seu velho casaco de pele algo que lhe oferecera o seu cunhado Luiz, quando este o visitou pela primeira vez. Não era nada mais, nada menos que um serrote.
A música produzida por eles soava bem melhor que a reputação dos três, o que fazia lembrar Assomada na época das águas, onde muitos tocavam nas portas em troca do "midje assadu".
Mesmo os dois polícias de serviço participavam no coro, o ritmo começava a aquecer. A voz do Pina dominava as melodias, o que significava que além do reggae, ele gostava de outras ondas.
Depois de vários funanás, já não se ouviam as vozes dos guardas. Pois dormitavam na cela vizinha. Subitamente a música terminou. E após uma longa espera, um dos guardas resolveu investigar o porquê da longa espera, tão grande foi o seu espanto que gritou:
- Fugiram, fugiram.
Ana Isabel Castanheira

sábado, maio 14, 2005

Jornada Rio Grande do Sul / Homenagem a Érico Veríssimo

O Mestrado em Estudos Lusófonos e o Departamento de Linguística e Literaturas da Universidade de Évora promovem as Jornadas sobre o Rio Grande do Sul - Homenagem a Érico Veríssimo - com Exposição (organizada por Drª Maria Raquel Álvares e Drª Cidália Pio) e Conferências, a serem realizadas na Casa Cordovil, sala 032, no dia 17 deMaio de 2005, das 9 h. 30 min. às 18 h.

quinta-feira, maio 12, 2005


Sequências
Foto de Nuno Alexandre in Olhares

quarta-feira, maio 11, 2005

Distância

Escuto a distância no próprio
ouvido

Pequena semente onde cabem o mar
o amor
e outras cidades igualmente
intactas

Escuto a distância na manhã
por ti levantada


Casimiro de Brito, Mesa do Amor,
Centelha, Coimbra, 1977

[Colaboração de Francisco Soares]

segunda-feira, maio 09, 2005


A Chegada da Primavera
Foto de Manuela

Como nos últimos tempos não tenho tido muito tempo para me dedicar ao Palavra Imagem, deixo-vos, como recompensa, com a minha foto favorita, do conjunto de fotos que tirei em Cabo Verde! ;)
Trata-se de uma fotografia de uma manhã muito límpida, maravilhosa, em Porto Novo. Daquelas manhãs em que até se avista uma pontinnha da ilha de S. Nicolau, que eu várias vezes pude observar a partir daquela localidade e que julgo ser um privilégio relativamente raro, dada a distância entre S. Antão e S. Nicolau.
Ao fundo avista-se a ilha de S. Vicente, e o barco que se aproxima é o Ribeira do Paúl, que é um dos dois que faz a travessia regular entre S. Vicente e Santo Antão. Embora a distância seja curta, a viagem demora cerca de uma hora, e dadas as fortes correntes marítimas daquela zona, a somar aos ventos igualmente fortes, o mar muito raramente está assim calmo como aparenta nesta imagem.

No entanto, para mim, sempre foi uma viagem agradável, sentindo as forças de todos os elementos: água, vento, sol e barco ("terra"). A chegada é inevitavelmente salgada, por vezes mesmo ensopada, quando o barco tanto desafia o mar, que este o invade para sobressalto de desavisados passageiros!

quinta-feira, maio 05, 2005


Divertimento

segunda-feira, maio 02, 2005

A vaca, a cabra e o cão... (Conto Tradicional)

A minha amiga Guida enviou-me o conto que passo a citar. Julgo que em tempos ouvi este conto, e me disseram que era um conto tradicional da Guiné, contudo são legítimas as adaptações. Esta é uma criação adaptada à realidade de Cabo Verde:
Por que é que em Cabo Verde, sempre que passa uma iace

a) a vaca fica no meio da estrada e não reage;
b) a cabra foge espavorida;
c) o cão corre atrás da iace a ladrar furiosamente?

A vaca, a cabra e o cão (conto caboverdiano)

No tempo em que os animais falavam, a vaca, a cabra e o cão decidiram apanhar uma iace em Porto Novo e atravessar a ilha de Sto Antão até à Ribeira Grande. Acordaram o preço da viagem com o motorista e partiram.
Quando chegaram ao destino, a vaca, que tinha o dinheiro certo, pagou e foi-se embora tranquilamente. A cabra, um pouco constrangida, lembrou-se que não trazia dinheiro consigo, mas prometeu ao motorista pagar-lhe quando o voltasse a encontrar. O cão não tinha dinheiro trocado e, como o motorista não tinha troco para lhe dar, ficou com o dinheiro todo e combinaram que o motorista lhe dava o troco quando o voltasse a ver.
É por essa razão que, até aos dias de hoje, sempre que passa uma iace, a vaca fica indiferente à sua passagem, já que tem a sua consciência tranquila. Por outro lado, a cabra foge espavorida, pois sabe que está em dívida para com o motorista.
E o cão, coitado, corre atrás da iace e ladra-lhe furiosamente, já que nunca recuperou o seu troco...
Margarida Neves